Geração de Velocidade

Levantar cedo para ir à escola, miúdos de 6 a 10 anos, 2,5 quilómetros a pé todos os dias...é mais que evidente, que nos dias de Inverno um frio de congelar as poças de água na Estrada, ninguém queria ir à Escola, mas íamos! 

Até era giro, partir gelo com os pés, fazíamos disso diversão que rapidamente se transformava numa forma inconsciente de percorrer aqueles metros todos a rir...

Às 12h30 era hora de saída, mais uns quilómetros a percorrer...mas primeiro havia uma bola para rebentar no campo da casa do povo, até a professora chegar e mandar-nos para casa, depois de descobrirmos as "manhas", fugíamos e escondíamos-nos, e ficávamos a jogar até as 15h ou 16h, até nos dar a fome do almoço...

Trepamos a cerejeira da J.A.E. vezes sem conta, em busca do primeiro fruto do ano, até as formigas "rabigas" nos expulsarem do seu habitat com valentes "ferradelas"...

Desenhávamos casas com pedritas no mimosal e um dia alguém teve a ideia de fazer um cachimbo com as canas da índia, depois de várias tentativas lá saiu um mais janota, era o cachimbo da paz, dos três da vida airada...
Jogávamos à bola atrás da capela dias sem conta, todos mesmo, dos mais pequenos até aos mais graúdos, havia alguns já com 16 ou 17 anos, as balizas eram as portas verdes da casa do americano,

Muitos golos foram marcados naquelas portas, ainda hoje lá estão, continuam verdes, um verde desmaiado, mas hoje ninguém joga à bola naquela rua, aliás, acho que os putos hoje não jogam à bola, para nós era uma perdição, bicicleta e bola até rebentar as sapatilhas, 

quando apareciam as raparigas mudávamos o jogo, e jogávamos "Ao Mata", que consistia em desenhar um campo na rua, com as pedras "moinhas" amarelas ou avermelhadas, separar dois territórios, cada um para uma equipa, depois o elemento que tivesse mais força atirava uma bola de ténis até acertar num elemento da equipa adversária até eliminar a equipa toda, se falha-se no atirar da bola, esta passava para a equipa adversária Ganhava o que elimina-se os elementos da equipa adversária, o troféu era dizer "Ganhamos", 

outras vezes era ao Jardim da Celeste, mas já não me lembro muito bem em que consistia, mas acho que era mais cantar...., 

outras vezes era jogo das perguntas e respostas, tinham de aparecer sempre as raparigas para estragar tudo, um gajo estava ali tão bem a correr atrás da bola!

Como o quotidiano das pessoas muda com o passar dos tempos, hoje os miúdos vão para a escola de transporte, as próprias mães levam-nos e esperam pelo transporte, não os deixam 10 segundos sozinhos, já ninguém brinca na rua, já nenhum miúdo tem a ideia de fazer um cachimbo de cana da Índia, já não partem as telhas do vizinho com a bola, já não fazem fisgas, nem badálos no carnaval, nem bombas de carnaval com cabeças de fósforos, pois não, agora acende-se o fogão a carregar num botão! 

Já não organizam jogos de futebol de terras vizinhas em que o campo mudava aos 20 golos e terminava o jogo aos 40, eram verdadeiras maratonas de futebol! 

Já não fazem carros de rolamentos, nem corridas de arcos ou pneus de motorizada...

Aliás, hoje quase não se vê esse tipo de meio de transporte, As Motorizadas, um veículo barulhento, de duas rodas, bastante económico por sinal que tinha um consumo aproximado de 2 ltos de gasolina de mistura aos 100 quilometros, lembro-me perfeitamente de tirar a licença desse veículo aos 16 anos, à 15 anos atrás, tinha uma em casa, era a do meu pai, uma Zundapp de 4 velocidades, Marcava 100 quilometros horários a descer e acelerador no máximo, mas correspondência a uma velocidade real de 75/80 quilómetros horários, em termos de velocidade ficava sempre para trás, mas a subir passava-os todos, tinha uma força aquela motoreta que ficavam todos admirados! 

Sonhava em ter uma NSR ou uma Cagiva, eram as motorizadas que se aproximavam em semelhança às motos de pista, tive o gozo de conduzir uma NSR azul e branca, linda, linda de um amigo meu, tinha 6 velocidades e ultrapassava os 120km/h reais, era o Topo das Motorizadas! 

Depois fui crescendo e esquecendo a vida motorizada, aos dezoito pensava entrar para a Universidade e preferia o carro, um Renault 5 de 1982, azul escuro, 3 portas, atingia os 110km/h com a segunda velocidade, depois tinha mais 2 mas não passava dos 140km/h...